Ainda vale mais do que mil imagens.

Dentro e em pouco os dias me fizeram um convite fresco e ousado: Estar com alguém. Não demorou que o alguém criasse forma e certidão. Embora descrever o que houve parece tão simples, não existe nada mais difícil do que fazer surgir o alguém perfeito em um súbito clarear de mente. Fora necessário ir além das minhas experiências e manias. Ultrapassamos o passado já conhecido, pé depois de pé, em sussurros, como se tivéssemos andando em uma loja de cristais. Sabia que poderia estilhaçar tudo em um movimento mais brusco e ansioso. Resolvi por conta sonhar um amor e vive-lo na realidade. Como quem desafia a lógica pouco provável de que sonhos não se realizam. Era simples, como é. Sonhei em acariciar os cabelos sedosos como os das chinesas, beijar os olhos fechados, compartilhar o sono de criança e poder amar alguém.

O alguém começou a criar sentidos, todos eles, do primeiro ao sexto e o décimo quinto. Me abandonei por diversas vezes em seu colo enquanto dormia, na forma mais terna que já entreguei meu sono para alguém. Junto do sono, os sonhos que ele não poderia enxergar quando me observava dormir. Mas era no colo da realidade que a minha cabeça repousava. Estive em paz, senti a liberdade dos meus gestos e nas minhas palavras. No meu andar em todas as ruas que só mudavam quando eu passava, trazendo no rosto o estado anestésico de possuir uma droga humana. Traguei, injetei, cheirei, engoli e vivo cada segundo dessa renuncia que não deixa nada de lado. Renuncia que devolve as coisas para o centro do meu corpo, com uma propensão a se deslocar para o lado esquerdo.

Não conseguimos viver dois meses como este em parte alguma.