quarta-feira, 14 de março de 2007

salvar, mudar, vencer.

De todas as pequenas desculpas e das grandes falhas eu nasci. Geraram-me no canto molhado de uma rua conhecida, os olhos dos gatos e o cheiro azedo do lixo observaram a cena lá iniciada. Abriram as cortinas aveludadas e eu era personagem principal, magro, pequeno, rejeitado por natureza, órfão de nascença.

Eu abro janelas, não vejo novelas. Eu torço pelo filho pobre de todas as mães do mundo, e não pelo melhor time do estado. Eu escolho o que é menos sujo, e não o do melhor. Eu tenho um amigo, o nome dele não é João, não é Maria. Eu tenho um amigo, ele é negro, ele á branco, ele anda e tropeça. Ele tem a coluna quebrada e as mãos atadas pelo mesmo pedaço de pano de chão que sobre a sua boca.

Nasci numa manjedoura abençoada pela podridão dos mendigos que ali moram. Eu nasci na mão do bandido que assaltou a sua mãe, que matou o seu irmão, que estuprou a sua tia. Três reis traficantes trouxeram a arma, o pedaço de pau e a corda. Amarraram o novo corpo de mãe que ali nascia, junto comigo. Espancaram cada pedaço do seu corpo. Mataram-na, finalmente, com quatro chagas de bala quente no peito que seria meu nos próximos meses. Levo essa cruz até hoje. Transformo vinho em água, sucata em obra prima, chão em cama, chafariz em chuveiro, droga em solução. Eu sou o salvador do mundo.

Um comentário:

marina. disse...

um dos melhores que você escreveu, putaquepariu! O.O