Rotulo-me, tornando-me mulher, a dona do pecado original. Nasci condenada a viver presa ao meu sexo, a dois seios que não são dois olhos, a beleza compulsória e a agressividade masculina. Os homens, tais semelhantes ao pai, me usam para ir lá, colher a maça proibida e ainda me fazem comer uma pedaço do veneno.
Olha, digo uma coisa pra vocês, a partir de hoje eu vou fazer esse homem comer a fruta toda, pedaço por pedaço, até morrer sufocado na sua própria dualidade. Chega de me colocarem em conflitos de dois mundos, dois sexos, duas paixões. Consolo é o que você compra no sexy shopping e que, de fato, poderia achar de graça em qualquer esquina. Consolo é carinho na nuca e beijo no ouvido. Consolo é separar três meses do seu calendário e queimar todos com isqueiro – aquele que você me renegou quando precisei de um trago. Consolo é quase namorar, na falta de quase não ter a verdadeira pessoa amada. Consolo é sair de balada e não beijar ninguém. Consolo é atender o telefone todo dia e escutar a celebre frase: “deixa rolar”. Consolo acredita em depressão e sente dó. Consolo acredita que o consolidado sente saudades. Consolo fica na gaveta do criado mudo esperando ser lembrado. Consolo não ouve ninguém, não escuta ninguém, consolo de verdade, nem ouve a melhor amiga. Consolo é comer o pedaço da maçã pra te deixar sozinho no paraíso. Consolo é ser mulher, e gostar de um homem que gosta de um semelhante.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
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