terça-feira, 19 de agosto de 2008

Eu abri a janela para que o ar arejasse as palavras difíceis que vou te escrever. Desesperada, tentei despejá-las ao vento para desviar o destinatário. Tentativa falha essa de querer separar do remetente o que se preparou durante meses para dizer. Nada é invenção, não quero fazer essa história virar poesia. Não tenho mar para descrever um encontro, só água suja indo para o ralo, agora.

Meu desejo era que você não me reconhecesse pela a caligrafia, e lesse essa carta como á de um desconhecido com o coração estraçalhado. No fim vou selar o envelope comigo na parte de fora dele, na tentativa de afastar a pessoa que um dia você conheceu, a fim de me tornar apenas mais uma página da sua vida, literalmente.

Tomei o cuidado para que por dentro você estivesse mais confortável, quando essa hora chegasse. De todas as outras cartas, essa é a única que não comecei com a habitual saudação. Troquei as canetas, o papel e não coloquei data. Tome-a como eterna, porque resolvi que assim vai ser. Só de sentir uma fresta de sol no meu olho esquerdo eu sei que nem te escrevo mais do mesmo lugar. O que quero dizer, desde o início, é que essa é uma carta de despedida definitiva. Tomei a liberdade de me despedir por você e por mim. De você e de mim.

(...)

4 comentários:

Iuri Gabriel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Iuri Gabriel disse...

p.s.: Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol.
[ Caio Fernando Abreu ]

ME, ocorre de que, esse P.S, se encaixa em qualquer despedida.

linda carta.

um inquieto. disse...

pra ontem e pra hoje, Maria Fernanda pra sempre. Comigo.

Espero que esta carta nunca chegue a mim. =]

Del Russo.

Glauco Mazrimas disse...

Só para dizer que adoro seus beijos, seus abraços, seu olhar envolvente e o seu sorriso magnífico.

" ... and if all else fails, you can close your eyes, and I'll be right beside you, I'll be the one by your side. "