sexta-feira, 27 de julho de 2007

Saudades.

A vitrola vendida há tempos retomava á percorrer aquele velho vinil de samba. Meus ouvidos estavam bem atentos quando pude ouvir meu pai cantar junto á canção. Gargalhava, mas não falhava! Firme em sua voz, fazia escorrer pelo os seus bigodes a grande satisfação em estar alí. Tempo depois quase trombei com meu irmão caçula. Seus passos eram pequenos mas o seu vigor era de rei. De longe, a voz da minha mãe tentava por nos eixos o pequeno herdeiro, que sendo coerente com as suas vontades, desobedecia.
Os quadros estragados por um vazamento de água tomaram ares reais. Os pequenos pescadores em pinceladas agora tinham água para poder velejar, além das novas cores que isso lhes trazia. Nunca soube até que oceano conseguiram chegar, mas sempre soube que estavam alí, na sala de estar, prontos para que eu lhe usassem na minha imaginação de criança.
Talvez fosse domingo. Andando mais a frente pude ver o grande fogão que mamãe ganhará de Natal. O cheiro de molho de tomate misturava-se com a de carro sendo lavado na garagem. Sei que papai e mamãe não ouviram, mas a campanhia havia tocado naquele blim-blom domincal, anunciando a chegada dos meus tios e primos. Horas admirando o lindo vestido de bolinhas que titia usava, enquanto meu pai e meu tio abriam o bar com cheiro de madeira envernizada.
Olha esse quarto! É o meu! Meu e somente por ter a janela no mesmo lugar, indicando a mesma paisagem. Abri o guarda roupa desconhecido. Certamente aquele era um novo, ainda menor! E que dias foram aqueles em que o meu casaco preto mofou no guarda roupa? Deveriam ser dias turbulentos, afinal, nunca deixei de o vestir e certamente porque ele tinha grandes bolsos que sempre estavam á minha disposição. Talvez tenha virado moda de brexó ... ou quem sabe eu o tenha substituído por um melhor, não lembro!
Os meus primos me chamavam no quintal, exitados para começar a brincadeira. Corri rapidamente, mas quando cheguei, eles já tinham ido embora. Sorri como uma adulta evergonhada de seu comportamento. Olhei para os lados. Saí. Meus pais tinham ido, talvez, para o mesmo lugar dos pescadores do quadro . Meu irmão caçula levantara vôo e foi ser rei da sua vida. Cravei a placa de vende-se, e fui com os meus 58 anos, acreditando que um quintal de piso quebrado, ainda é, o lugar mais seguro para se sonhar.

Nenhum comentário: